sábado, 30 de novembro de 2013

Milágrimas

em caso de dor, ponha gelo, mude o corte de cabelo
mude como o modelo
vá ao cinema, dê um sorriso, ainda que amarelo
esqueça seu cotovelo
se amargo for já ter sido, troque já esse vestido
troque o padrão do tecido
saia do sério, deixe os critérios, siga todos os sentidos
faça fazer sentido
a cada mil lágrimas sai um milagre
caso de tristeza, vire a mesa, coma só a sobremesa
coma somente a cereja
jogue para cima, faça cena, cante as rimas de um poema
sofra apenas, viva apenas
sendo só fissura, ou loucura, quem sabe casando cura
ninguém sabe o que procura
faça uma novena, reze um terço, caia fora do contexto
invente seu endereço
a cada milágrimas sai um milagre
mas se, apesar de banal,
chorar for inevitável
sinta o gosto do sal, do sal, do sal
sinta o gosto do sal
gota a gota, uma a uma
duas, três, dez, cem, mil lágrimas
sinta o milagre
a cada mil lágrimas sai um milagre
a cada milagrimas.


(Alice Ruiz)

Saudação ao amanhecer

Concentra-te neste dia que desponta!
Pois ele é a vida,
A própria vida em seu breve curso.
Jazem nele todas as verdades e realidades de tua existência:
A felicidade de crescer,
A glória de agir,
O esplendor da beleza;
Pois o dia de ontem é apenas um sonho
E o amanhã uma visão,
Mas o dia de hoje, bem vivido,
Torna cada dia passado um sonho de felicidade
E cada amanhã uma visão de esperança.
Concentra-te, portanto, neste dia!
Neste dia maravilhoso que desponta.

(Do sânscrito, autor desconhecido, ano 300:)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Canção da Minha Ternura

Rondaste o meu castelo solitário
como um rio de vozes e de gestos;
baixei as minhas pontes fatigadas
e conheci teus lumes, teus agrados
teus olhos de ouro negro que confundem;
andei na tua voz como num rio
de fogo e mel e raros peixes belos,
cheguei na tua ilha e atrás da porta
me deste o banquete dos ardores
teus.

Mas às vezes sou quem volta
a erguer as pontes e cavar o fosso
e agora em sua torre, ternamente,
sem mágoa se debruça nas varandas
vendo-te ao longe , barco nessas águas,
querendo ainda estar se regressares
-porque seria pena naufragarmos
se poderias ter, sem tantas dores,
viagens e chegadas nos amores meus.


(Lya Luft)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Amar você é coisa de minutos…

Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui.


(Paulo Leminski)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sou Eu


Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, 

Espécie de acessório ou sobressalente próprio, 
Arredores irregulares da minha emoção sincera, 
Sou eu aqui em mim, sou eu. 

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. 
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma. 
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim. 

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente, 
Como de um sonho formado sobre realidades mistas, 
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico, 
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima. 

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, 
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, 
De haver melhor em mim do que eu. 

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa, 
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, 
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho, 
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, 
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. 

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica, 
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, 
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo — 
A impressão de pão com manteiga e brinquedos 
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina, 
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, 
Num ver chover com som lá fora 
E não as lágrimas mortas de custar a engolir. 

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado, 
O emissário sem carta nem credenciais, 
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, 
A quem tinem as campainhas da cabeça 
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima. 

Sou eu mesmo, a charada sincopada 
Que ninguém da roda decifra nos serões de província. 

Sou eu mesmo, que remédio! ... 

(Fernando Pessoa)

domingo, 24 de novembro de 2013

O Sonho

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz. 

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.


(Clarice Lispector)

Mil faces

Sou forte. Meio doce e meio ácida.
Em alguns dias acho que sou fraca. E boba.
Preciso de um lugar onde enfiar a cara pra esconder as lágrimas.
Aí penso que não sou tão forte assim e começo a olhar pra mim.
Sou forte sim, mas também choro. Sou gente. Sou humana.
Sou manhosa. Sou assim. Quero que as coisas aconteçam já,
logo, de uma vez. Quero que meus erros não me impeçam de
continuar olhando para a frente.
E quero continuar errando, pois jamais serei perfeita (ainda bem!).
Tampouco quero ser comum e normal.
Quero ser simplesmente eu. Quero rir, sorrir e chorar.
Sentir friozinho na barriga, nó no peito, tremedeira nas pernas.
Sentir que as coisas funcionam e que tenho que trocar de jeito
quando insisto em algo que não dá resultado.
Quero aprender e, ainda assim, continuar criança.
Ficar no sol e sentir o vento gelado no nariz.
Quero sentir cheiro de grama cortada e café passado.
Cheiro de chuva, de flor, cheiro de vida.
Aprecio as coisas simples e quero continuar descomplicando o
que parece complicado. Se der pra resolver, vamos lá! Se não dá,
deixa pra lá. A vida não é complicada e nem difícil, tudo depende
de como a gente encara e se impõe.
Quero ser eu, com minha cara azeda e absurdamente açucarada.
Não quero saber tudo e nem ser racional.
Quero continuar mantendo o meu cérebro no lugar onde ele se encontra:
meu coração. E essa é a melhor parte de mim.

(Clarissa Corrêa)

sábado, 23 de novembro de 2013

Late ilusão

Em noite de lua cheia
geme ao meu lado o meu cão
acabado de chegar
late ilusões ao meu ouvido
e meu sentido
diz que ele veio pra ficar
Mas a vida passa e vira
páginas da folhinha
o que era cheia e domingo
foi minguando em segundas e terças
e meu homem, minha besta
voltou novo e repetido
como se fosse ficar até sexta
três dias de ele chegando de madrugada
Três dias de ele nadando na minha água
Conversas de homem e mulher
beijo na boca
tirar a roupa
novos latidos de ilusão no meu duvido
meu homem partiu na derradeira manhã
todo agradecido
dos momentos de amor que uivou comigo
eu fiquei lua sozinha no céu com aquela saudade amarela
e ele na terra cantando latindo partindo
uivando pra ela.


(Elisa Lucinda)

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Paixão ardente




Esta chama voraz que arde em meu peito
Me atordoa, me embala, me agita no leito,
Em pseudos e doces espasmos de dor...
É dor saborosa, que leva à loucura,
Que acalma, aquece, entorpece, tortura,
Insolentes e castos eflúvios de amor...

Que são estas ondas tão incoerentes,
De sons e de cores, fortes, envolventes,
De tantos sabores paradoxais?
Serão os sentidos que estão me enganando,
Ou apenas os sonhos que vão me embalando,
Em meus dias maduros... tristes... outonais?

Confesso... 
... é o grito, o brado, o clamor, a explosão,
Louco sentimento mesclado em paixão,
Que sinto por ti e é tão delirante...
Que só se acalma quando adormeço
E do mundo, da vida, das dores esqueço,
No pouso encantado de teu peito amante.

(Oriza Martins)






segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sorriso lindo

Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso...
Mostre aquilo que você é, sem medo.
Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu.
Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos.
Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome!
Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la, mesmo que se sinta incapaz.
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.
Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos...
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Você... não vá embora.
Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.


(Cristiana Passinato)

domingo, 17 de novembro de 2013

Nós dois

Queria ter lhe conhecido antes, 
muito antes... 
Para que nenhum de nós dois tivesse
medos ou cicatrizes.
Queria ter estado com você,
quando seu coração descobriu 
o que era AMOR.
Quando seu corpo descobriu 
o que era DESEJO.
E antes que pudesse sofrer,
eu estaria do seu lado,
amando-lhe.
entregando-me,
e juntos poder ter aprendido,
as lições da vida e do coração...
Queria ter te conhecido muito antes...
Quando suas esperanças 
começaram a nascer,
quando seus sonhos ainda eram puros,
e seus ideais ainda ingênuos...
Pena termos nos encontrado só agora,
já com o coração viciado 
em outros amores,
com uma imagem meio falsa,
do que é felicidade,
do que é entregar-se...
Queria ter lhe encontrado antes,
muito antes...
Numa nova vida,
num outro tempo,
em que não precisássemos 
temer o nosso futuro,
nem nossos sentimentos...

Ah! como eu queria!
Mas, não foi assim, te conheci agora...
na hora certa?, no momento certo?...
eu não sei...

Só sei que te encontrei agora e,
na sua vida, se você quiser, para sempre...
eu ficarei...!

(Vilma Galvão)

Poema do Encantamento


Muito além do vôo do mais altivo pássaro,

E inferior até mesmo ao menor dos pardais...

Mais extenso que o maior e vasto dos oceanos,
E como se afogando numa singela e rasa gota d'agua...

Tão escuro quanto a mais poderosa das magias-negras,
E outra vez me sinto sucinto e encantado com o mais simples olhar

Bem mais claro do que a pura luz do sol, ou que as estrelas possam reluzir,
E mais uma vez, me vejo cego 

quando simplesmente 

te aproximas de mim!     


(Marcio Belgium)

sábado, 16 de novembro de 2013

Sou filha do Sol

Sou filha do Sol, trazida pelo vento.
Sou verdadeira Bruxa por dentro.
Bruxa nascida do fogo, 
meu espírito é soberano. 
Sou a transformação, 
a destruição e também 
sou a criação.
Vivo com liberdade, criatividade e lealdade. 
Assim vão me encontrar.
E se procurarem bem no fundo da fogueira,

lareira ou de uma vela
Os meus olhos vão achar 
na chama daquilo que queima 
o meu espírito, estará lá.
Mas logo vos aviso, 
se mau intencionado estás,
não procurarás.


(Rosangela Amaral)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Amor indisciplinado

Esse amor que vale as correntes que arrasto
Que em torno da lua desenha mistérios
Que me puxa sempre por mais que me afasto
Que me faz sonhar com poesia e castelos

Esse amor que é presente desde o passado
De lembranças que chegam de pura magia.
Que faz vir à tona, a carência de afago.
Que decora em braile, minha anatomia.

Esse amor extingue a saudade insana
Cujo calor, manda embora a dor e o frio.
Que de repente preenche todo o vazio

Ah esse amor... Que me faz flutuar
Que é dor, mas que é também lenitivo.
Amor que eu quero, e pelo qual vivo.


(Gloria Salles)

Razão

Que me vale a razão
ledo engano ,presunção
a verdade que destrói
... a mentira que ainda dói

habitante de um castelo
construiu um mundo belo
sem encantos , desilusão
lugar onde mora a razão

que me vale a santidade
no fim,nada é verdade
obscuro destino oculto
absurdo,absurdo

quem escreveu a vida
não anotou as feridas
resistiu ao dom da morte
inevitável sorte

dentro do cálice de vinho
fez seu sangue derramar
escolhera este dia,para se embriagar


(Adelia Argolo)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Devia ser proibido

Devia ser proibido
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido
estar do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido... "


(Alice Ruiz)

domingo, 10 de novembro de 2013

Teus segredos...


Queria te desvendar
Eu queria muito te entender,
Compreender o que pensas
Traduzir os teus mistérios,
Desvendar os teus segredos
Como um poema
Onde o poeta faz escritas,
Radiantes aos meus olhos
ou como qualquer rima deste
verso que componho.
Queria poder te ler
E reler varias e varias vezes
até poder te decorar e
compreender um pouco mais
essa maravilha que é você...
Nossa,como seria bom saber
O que você pensa, sente, e faz.
O que esses olhos brilhantes
Desejam da vida... o que essa
obra divina quer em seus dias.
Fico pensando e imaginando
muito,que fosse as mesmas
coisas que eu penso e desejo
Sobre o amor, a vida… sonhos
E desejos... Ah!
Como eu gostaria de decifrar
essa tua alma, o teu amor e os teus desejos,
Os quais venho a observar
atentamente calado;
Sentimentos e emoções que valorizo em você.
Sou sentimentos, sou puramente
emoção, sou como você,
não tenho começo, meio ou fim.
Mas adoraria muito,conhecer
e decifrar esse mistério que é você.

 (Marcelo Rondoni)

sábado, 9 de novembro de 2013

Tenho tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.



(Fernando Pessoa)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Foi engano...

Você foi o ascendente de todos os meus enganos
O caminhar interrompido na soleira da entrada
O beijo roubado que alimentou os desenganos
Na tarde divertida e visivelmente apaixonada...

Foi engano o efeito de flutuar quando me olhava
E o esmero imensurável que acreditei ser verdade
O jeito terno no olhar, no sorriso que espreitava
Talvez fosse embuste o cheiro do fim de tarde...

Os sussurros nos abraços nutriam minha urgência
Ajustavam-se impecável na medida da minha ilusão
Talvez pra me indenizar por tua futura ausência
Conferindo-me a penumbra da austera solidão...

Revelou falso amor, mas não lhe atribuo engano
É culpa do meu coração, carente, cego... Insano...


(Glória Salles)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Perdão

Eu te perdôo pela palavra não dita 
Refugiada na solidão dos teus lábios 
Entre os beijos que amordaçaste 

Eu te perdôo pelo carinho adiado 
Tatuado na insônia do teu corpo 
Entre os sonhos que não dormiste 

Eu te perdôo pelo olhar aflito 
Desenhado no deserto do teu rosto 
Entre os gritos de silêncio que guardaste 

Eu te perdôo pelo abraço apenas imaginado 
Sonâmbulo a ansiar o calor dos meus braços 
Entre os luares que teus olhos apagaram 

Eu te perdôo por sufocares teus desejos 
Exilando-os na penumbra do teu coração 
Entre os invernos perenes da tua alma 

Eu te perdôo pelas vezes que te esperei 
Quando teus passos emudeceram 
Entre as fronteiras dos teus limites 

Eu te perdôo pela tua renúncia 
Por amontoares teus sonhos em gavetas 
Entre tantos outros estilhaçados pelo tempo 

Eu te perdôo por te perderes de mim...



(Fernanda Guimarães)          

domingo, 3 de novembro de 2013

Ode ao Vinho

Vinho cor do dia
vinho cor da noite
vinho com pés púrpura
o sangue de topázio
vinho,
estrelado filho
da terra
vino, liso
como uma espada de ouro, 
suave
como um desordenado veludo
vinho encaracolado
e suspenso,
amoroso, marinho
nunca coubeste em um copo,
em um canto, em um homem,
coral, gregário és,
e quando menos mútuo.
O vinho
move a primavera
cresce como uma planta de alegria
caem muros, 
penhascos, 
se fecham os abismos,
nasce o canto.
Oh tú, jarra de vinho, no deserto
com a saborosa que amo,
disse o velho poeta.
Que o cântaro do vinho
ao peso do amor some seu beijo.
Amo sobre uma mesa,
quando se fala,
à luz de uma garrafa
de inteligente vinho.
Que o bebam,
que recordem em cada
gota de ouro
ou copo de topázio
ou colher de púrpura
que trabalhou no outono
até encher de vinho as vasilhas
e aprenda o homem obscuro, 
no ceremonial de seu negócio,
a recordar a terra e seus deveres,
a propagar o cântico do fruto.
(Pablo Neruda)